Balanço 2011: o ano de resistência e luta dos movimentos sociais em Alagoas

Movimento LGBT sofre com a carência de debates
 1/1/2012
2011 foi negativo para os o movimento LGBT em Alagoas. Ano marcado por vários crimes de homofobia que ceifou vidas daqueles que são violentados por serem homossexuais. A falta de tolerância por parte da sociedade e de vontade política prejudica o movimento e faz com que persista a discriminação e o preconceito. Intolerência de reconhecer que gays, lésbicas, transexuais e transgêneros são homens e mulheres que tem direito ao trabalho, a amar e à vida como qualquer ser humano.
De acordo com o secretário estadual LGBT do Partido dos Trabalhadores (PT), não houve mobilização do próprio movimento em 2011. “Houve vários assassinatos neste ano e o movimento não se mobilizou, a parada do orgulho gay não mencionou os homossexuais mortos por homofobia. E a própria parada que não cumpriu seu objetivo de reivindicar pelos direitos da população LGBT. Houve falta de organização e tivemos que paralisar no meio do percurso. Esse ano foi muito ruim para o movimento LGBT de Alagoas”, avaliou.
AE

Protestos contra a homofobia reuniram...
E como mudar essa realidade? Segundo Ednaldo, no ano de 2012 os militantes devem voltar a ir para as ruas. “Temos que voltar a discutir o programa “Escola Sem Homofobia” e reivindicar o uso do Kit Anti-homofobia, criado pelo Governo Federal. E como 2012 é ano eleitoral, temos que votar em candidatos que tenham em suas plataformas políticas públicas para as/os LGBT”. Sem mobilização, sem educação e sem políticas públicas voltadas para a população homossexual, crimes bárbaros e com requintes de crueldade como aconteceram em 2011, persistirão e os culpados nunca serão julgados.
“Se a passagem aumentar, a cidade vai parar!”
Ônibus defasados, desorganização das linhas que abastecem o transporte público em Maceió, falta de planejamento e da implantação do passe livre para estudantes e desempregados foi o norte para as mobilizações contra o aumento de passagem previsto para acontecer este ano. De R$ 2,10, os empresários do transporte queriam aumentar para R$ 2,49. “O povo não é bobo, aumento da passagem é roubo”. Explanaram estudantes que nos meses de outubro e novembro, levaram sua indignação às ruas, mostrando que o movimento estudantil permanece vivo. A carta de reivindicação foi entregue nas mãos do presidente da Câmara de Vereadores, Galba Novaes (PRB). Além da pauta contra o aumento, o movimento estudantil voltou a exigir uma mobilização antiga: o direito ao passe livre.
Da cidade para o campo: a jornada pela reforma agrária
Em 2011 completaram 15 anos do Massacre de Eldorado dos Carajás, quando 19 trabalhadores sem terra foram assassinados por policiais militares em uma operação de desapropriação forçada por ricos empresários do município, que fica no estado do Pará. Desde então, a morte dos 19 lutadores do povo até hoje não foi solucionada e os problemas dos pobres do campo continuam sem resposta.
Alagoas, maior produtor de cana-de-açúcar da região Nordeste, tem grande parte do seu território ocupado pela atividade sucroalcooleira. Este, como todos os anos, movimentos que fazem parte da chamada Via Campesina lutaram pela instalação da reforma agrária não apenas no Estado, mas em todo o país.
De acordo com o assessor de imprensa do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Rafael Soriano, a luta pela implementação da reforma agrária em Alagoas sofreu a ofensiva por parte da mídia, capitaneada por grandes empresários da indústria do álcool.
“O ano começou com a ofensiva do capital no campo pra cima da reforma agrária. Tanto pelas reintegrações de posse por ação institucional, Polícia Militar e Justiça, algumas de forma violenta, despejaram mais de mil famílias de trabalhadores rurais. Logo após isso, tivemos um golpe sofrido agora por meio de um grande jornal local, que financiado por uma Usina, denunciou a venda de lotes, intensificando antigos preconceitos contra o movimento e o discurso de que a reforma agrária é uma grande fraude. Toda uma articulação, desde Polícia, Justiça, mídia em serviço do agronegócio e dos grandes latifundiários”, explicou.
Comunicação/MST-AL

Marcha do MST no Dia Estadual de Luta...
E o movimento não se calou. Organizados com o apoio de outras entidades, os trabalhadores rurais sem terra realizaram ostensivas contra a repressão. O Incra (Instituto Nacional de Reforma Agrária) abriu sindicância para apurar os fatos e em todo o país, foi lançada a campanha contra a venda de lotes. “Mesmo com a resposta, as ações feitas pelo capital mancharam mais uma vez a luta pela reforma agrária na sociedade. O nosso balanço é que ao invés de avançar, o debate sobre esse tema retrocedeu”, avaliou Soriano.
Apesar dos ataques e de já ter começado o ano na defensiva, o movimento continuou a mobilização. Ações e a crescente do poder popular no campo, com ocupações de prefeituras no Estado, abriram negociações para cobrar antigas pautas.
“Em abril tivemos a Jornada Nacional de Lutas pela Reforma Agrária, onde ocupamos rodovias, latifúndios, exigindo o fim da impunidade a crimes contra lideranças camponesas o assentamento imediato das cem mil famílias acampadas em todo o país, o desenvolvimento dos assentamentos já existentes (com expansão do crédito, agroindústrias, infra-estrutura, habitação rural, escolas, postos de saúde etc.) e, localmente, a liberação das terras do antigo banco Produban para serem destinadas à reforma agrária. Foi quando ouvimos do Governo do Estado que essa pauta já estava destrancada e que já estava na mão do Incra para ser resolvida. Esses avanços foram positivos”, destacou o assessor do MST.
A nível nacional o movimento teve outra conquista a partir das mobilizações. O Governo Federal sinalizou a liberação de R$ 400 milhões para a aquisição de terras a serem destinadas a política de reforma agrária e R$ 50 milhões para o Programa Nacional de Educação da Reforma Agrária (PRONERA) e investimentos na agroindústria.
Soriano destacou ainda a mudança de direção na Presidência do Brasil. Mesmo com a baixa na destinação de verbas para a reforma agrária, Dilma Rousseff foi avaliada razoavelmente pelo movimento. Somente no final do ano, a presidenta assinou mais 70 decretos para o desenvolvimento do campo. “A partir da pressão social, em um ano em que não teríamos a criação de nenhum assentamento, a Dilma assinou os decretos destinados a reforma agrária”.
E o tabu de se discutir a reforma agrária na sociedade? Segundo Rafael Soriano é um tema que persiste como ferida no país desde a década de 1950, imposta pela política em que o país foi formado. “O país foi constituído dentro da marca da concentração de terras e essa foi a base para a concentração de todas as outras riquezas, perpetuando aquelas mesmas famílias no poder econômico, social e político, uma aliança para perpetuar os grandes latifúndios com a política capitalista.”
O que esperar para 2012?
Ano de eleições municipais, o que esperar do cenário de Alagoas para o ano? Segundo a sindicalista da CUT, a sociedade precisará estar de olho na política do Estado para poder interferir também nas decisões que são tomadas. “A sociedade alagoana tem que ficar mais atenta aos acontecimentos políticos. Nunca encontrei na vida real o lugar lindo que aparece na propaganda do governo dizendo que é Alagoas. Em 2012 não podemos nos deixar enganar por falsas propagandas ou promessas sem sentido, o que temos de fato são formatos de governos e no caso do governo Teo (PSDB) e seus aliados estamos diante do aprofundamento das mazelas do estado: analfabetismo, insegurança pública, saúde agonizante e dependência extrema das verbas federais. Em 2012 temos que ficar de olho”.
Comunicação/MST-AL

Movimento dos Trabalhadores Rurais Se...
Para o MST, o principal desafio é na condução do Incra, que recentemente teve a posse de uma nova gestora. Porém, o próprio Instituto sofre com o esquecimento por parte do Executivo estadual. “Temos um grande problema que toda sociedade já constatou. Famílias que foram despejadas de forma violenta pela Polícia de suas terras estão há mais de um ano alojadas na Praça Sinimbu, no Centro, em frente a sede do Incra. Isso é um problema que já deveria ter sido solucionado, mas falta estrutura física e humana para a resolução dos problemas. Em 2012 vamos continuar com as pautas de desenvolvimento dos assentamentos, garantir investimentos na agroindústria, educação e outros pontos necessários para os movimentos. A luta não para”, declarou Soriano.
Para os movimentos sociais um dos grandes desafios ainda é o tabu. Taxados pela principalmente pela grande mídia, estudantes, sem terra, os LGBT além de priorizar suas demandas e necessidades, precisam insistir em desmistificar o imaginário imposto por um sistema que exclui as minorias.
“A população é conduzida e induzida a participar pouco ou não participar da vida política na sociedade. todos os dias é massificada a informação de que política seria uma coisa suja, de gente desonesta, ou no mínimo chata, que não precisaria estar no cotidiano do cidadão comum. Romper com esse lógica é algo muito difícil mas é uma das metas que os movimentos sociais perseguem”, concluiu Elida.

http://primeiraedicao.com.br/noticia/2011/12/31/balanco-2011-o-ano-de-resistencia-e-luta-dos-movimentos-sociais-em-alagoas

Nenhum comentário:

Postar um comentário